Saturday, February 24, 2007

A Fraternidade é Vermelha


O Telecine Cult exibiu dias atrás A Fraternidade é Vermelha. O filme faz parte da “Trilogia das Cores” ao lado de A igualdade é branca e A liberdade é azul, todos de Krzysztof Kieślowski , cineasta polonês falecido em 1996 que deixou seu nome gravado na lista dos grandes na história do cinema. Foi bom rever esse belo e marcante longa-metragem, que nos toca tanto pela suavidade com que mergulha no complexo – e misterioso – abismo das relações humanas como pela força poética que sustenta sua fotografia –prazer dos olhos, para fazer uso de uma expressão de Truffaut.

Krzysztof Kieślowski
Se for verdade que a sutileza e o bom gosto dão o tom de “A Fraternidade”, também o é a certeza de que o filme nos arremessa no colo uma bomba de efeito moral, destinada a nos questionar a respeito de nossa incompreensão mútua, a indiferença com que nos tratamos, o não reconhecimento do Outro; a incomunicabilidade das relações no estágio mais agudo.

Não por acaso, Kieślowski permeia o filme com símbolos que remetem à comunicação – ou à falta de. A metáfora se apresenta logo nos primeiros minutos de película, quando o telefone da protagonista Valentine (Irene Jacob) toca insistentemente: quem chama é seu namorado, que invariavelmente extravasa, sempre pelo telefone, suas neuras, crises de ciúme, seu medo de “perder” Valentine. E não pára por aí: a simbologia atinge o ponto máximo com o personagem do juiz aposentado cujo deleite secreto é grampear as conversas telefônicas dos vizinhos.

A Fraternidade é Vermelha é a confirmação do cinema não só como arte, mas como filosofia de vida.


E Deus criou Irene Jacob

Agora deixando de lado as questões técnicas ou qualquer devaneio crítico, a verdade é que o maior encanto em A Fraternidade, pelo menos para mim, é a talentosa Irene Jacob. É difícil explicar por que a figura dela me comove tanto. Talvez pelo fato de me intrigar e eu não saber explicar de onde vem seu segredo. Talvez por ser dotada de uma beleza que contrasta com a opulência vulgar do padrão enaltecido pelo senso comum e reverberado pela mídia (as turbinadas, siliconadas, popozudas de academia). Irene é sedutora sem ser fatal, graciosa sem ser afetada. Embora lindíssima, não soa inatingível: ela poderia morar do outro lado da rua.



Embora com estilo próprio e sem ter alcançado o mesmo glamour que as grandes divas do cinema francês, Irene Jacob é descendente de uma escola de atrizes composta por Jeanne Moreau, Catherine Deneuve, Brigitte Bardot, Anna Karina, Fanny Ardant e Julliete Binoche, que também participou da "Trilogia das Cores", como protagonista de A Liberdade é Azul.

Depois de falar tanto em Irene, chegou a hora de vê-la. Selecionei uma cena muito bonita de A Fraternidade. Neste trecho do filme, enquanto desfila ela procura pelo juiz, a essa altura já seu amigo. De resto, a cena é mais um exemplo da mestria de Kieślowski. Ele proporciona ao espectador densidade e emoção em uma cena que se passa em um desfile de moda, ambiente que se caracteriza pela superficialidade, especialmente no que se refere ao contato humano.

1 comment:

Anonymous said...

que post legal.
esse filme é muito bom, me identifiquei bastante até.