Wednesday, January 24, 2007

A roupa do filho

Dona Josefa abraçava o corpo do filho morto, já dentro do caixão. Chorava muito. Depois, acariciava o rosto e relembrava a história do seu menino, da infância até o instante fatal em que bandidos o assassinaram a tiros. Geraldo Gomes da Silva tinha 23 anos. O crime ocorreu em Prazeres, Jaboatão dos Guararapes, região metropolitana do Recife.

De repente, Dona Josefa notou algo estranho. Percebeu que seu garoto, que mantinha barba, estava com o rosto liso. “O que será que aconteceu. Será que foi o pessoal do IML? Quem tirou a barba dele?”, pensou. Mas, fazer o quê, de nada adiantava conjecturar a respeito da face sem barba do filho.

Depois de 18 horas de velório, Geraldo foi enterrado.

Quatro horas depois do enterro, no entanto, um agente funerário telefona para a família:
- Olha, aconteceu uma confusão. Quem foi enterrado não foi o parente de vocês. O corpo do Geraldo está no IML.

No lugar de Geraldo, fora enviado um certo Edimilson, também morto a tiros. A troca dos cadáveres ocorreu porque, no momento do reconhecimento do cadáver, Edimilson estava vestido com as roupas de Geraldo.

- Eu reconheci o corpo por causa da roupa que levei pra ele –, disse Marcelo Gomes da Silva, irmão de Geraldo.

Desfeita a confusão, novo velório e enterro para Geraldo, que finalmente pôde descansar em paz.

2 comments:

Anonymous said...

o choro não foi em vão. um pouquinho de desperdício. mas não em vão

Anonymous said...

um país onde nem morto pobre descansa em paz. amém, geraldo. amém, edmilson. só quero ver trocar defunto de doutor...