Wednesday, January 10, 2007

As reflexões de Tarkovski


Como presente de aniversário, ganhei da Lucia Faria, minha amiga e sócia, um belo livro – que o Ivo, marido dela, já havia me recomendado em dezembro: “Esculpir o tempo” (Martins Fontes), de Andrei Tarkovski, cineasta russo (1932-1986). Comecei a lê-lo ontem e já estou encantado.

Na introdução, Tarkovski (O Espelho, Solaris, A infância de Ivan) explica que o livro nasceu da intenção de refletir sobre o seu fazer artístico, o modo como seu trabalho pode ser confrontado com a de outros cineastas e que fatores diferenciam o cinema das demais artes. Floresce em cada linha, além da erudição, um profundo respeito pelo ser humano e o entendimento de que o cinema como canal para expressar em profundidade o sentido da aventura humana.

As poucas páginas já percorridas foram suficientes para ler apontamentos valiosos, como estes listados abaixo:

“A criação artística, afinal, não está sujeita a leis absolutas e válidas para todas as épocas; uma vez que está ligada ao objetivo mais geral do conhecimento do mundo, ela tem um número infinito de facetas e de vínculos que ligam o homem a sua atividade vital; e, mesmo que seja interminável o caminho que leva ao conhecimento, nenhum dos passos que aproximam o homem de uma compreensão plena do significado da sua existência pode ser desprezado como pequeno demais”.

Outro trecho a destacar é aquele em que defende a importância de a obra artística, em vez de entregar as emoções prontas e mastigadas para o público, provocar o espectador, instigá-lo a refletir e a se abrir para um diálogo efetivo com a arte. Diz Tarkoviski:

“O método pelo qual o artista obriga o público a reconstruir o todo através das suas partes e a refletir, indo além daquilo que foi dito explicitamente, é o único capaz de colocar o público em igualdade de condições com o artista no processo de percepção do filme. E, na verdade, do ponto de vista do respeito mútuo, só esse tipo de reciprocidade é digno dos procedimentos artísticos”.

A leitura promete.

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